De vez em quando um segmento social de “seres de bem” entra
em campo no Brasil. Intitulam-se únicos defensores da pátria e afirmam que a
bola é deles, que os bandeirinhas e juízes são deles, que a transmissão é deles.
Mas esquecem do principal: o jogo democrático não é possível com um só time em
campo. Democrático é isso? Perguntam perplexos. Se for, então às favas a
democracia, a República, as eleições, as leis e qualquer coisa que nos
atrapalhe!
Nesse ambiente de promiscuidade neural a educação é sucateada e os professores são denunciados como profetas do caos. Alunos viram seres inocentes à mercê de ideologias professorais mais efetivas que a mídia, as redes sociais e os entretenimentos de matar pra ganhar. Escolas são tratadas como antro
de maconheiros e o livre exercício do pensamento é considerado uma bagunça desmilitarizada. O mantra, um só: o Estado está
podre, não é pai, nem mãe. Cada um que se vire! A política é a arte dos
ladrões. Cadeia para todos! Os direitos humanos só favorecem bandidos. Bandido
bom é bandido morto! Pronto, é tudo o que dizem os “homens e mulheres de bem”.
Entregar a preço de banana a Petrobrás, a
Eletrobrás e algumas dezenas de empresas nacionais para os “investidores internacionais” é vender o país? A resposta extrapola
o limite das sinapses neurais desses “seres de bem”. Para eles pouco importa se investir é cair matando.
Na última vez que entraram em cena produziram um período tão
obscuro na história do Brasil que até hoje, passados mais de trinta anos, parece
haver mais esforços para esconder do que para revelar as evidências que
permitiriam saber o que nos atropelou, fazendo, inclusive, com que tenham proliferado
mais desses “homens de bem”.
Um emaranhado de gente desgarrada, sem pátria, sem nação e
sem luz, lançando sombras sobre almas em desassossego-desemprego,
desassossego-fome e desassossego-miséria e pobreza. Não falo dos coxinhas que
foram às ruas para mudar o nome do Brasil (brasa, vermelho) para Verdil ou
Amareliu. Poucos neurônios. Falo dos maiorais. Dos “homens de bem” do Supremo
Tribunal Federal.
Um dias desses, um deles – ministro Fux, fez um malabarismo sináptico-neural
para afirmar que a cláusula pétrea constitucional da prisão após o trânsito em
julgado “não citava o código penal!”. Que pérola! Onde estudou esse ministro? A
quem serve? Tenho dúvida se é ao nosso povo.
Outra ministra – Rosa Weber, fez um longo esforço mental para
não conceder habeas corpus solicitado ao STF, porque “apesar de concordar com a
Constituição, permaneceria com a
decisão do colegiado do órgão em sentido contrário”. Se ela diz que valoriza o
colegiado, porque não fez prevalecer a Constituição, que é o maior “colegiado”
que o pais produziu?
Uns juízes no Paraná, outros em São Paulo, outros em Brasília, vão marchando nesse decidido cordão que desfia o tecido nacional. O pé mandando na cabeça. Soberanos cujas togas crescem ano a ano, devendo superar os 6 metros no lado reto e 2 metros de largura das usadas pelos romanos, o que exigirá, como na Roma antiga, um auxílio juiz para manter um pajem que segure-a enquanto ele se movimenta. Sim, andar é para os mortais.
Para
onde nos leva a promessa desses homens de bem? Vamos passar as férias na Europa
como eles? Vamos viajar nos jatos da Força Aérea Brasileira ao lado deles?
Vamos ter auxílio moradia de cinco mil reais como eles? Vamos ser punidos com
aposentadoria integral de mais de trinta mil como eles? Vamos barganhar favores
e vender sentenças como eles? Não nos iludamos. O máximo que poderemos fazer é
imitá-los, apagando, rabiscando e desobedecendo as leis que os protegem.