Falar de eleições presidenciais,
um ano antes, soa tão distante como falar com os anjos. Ainda mais quando se
constata que o assunto chega até nós como se fosse um show midiático típico dos
programas de domingo. A superficialidade é o feijão com arroz da imprensa
brasileira. Façam entrevistas com jornais e jornalistas e a conclusão será patética:
veículos aliados de candidatos e
jornalistas que falam de política com se fosse campeonato esportivo ou bolsa de
valores. Claro, há exceções, mas estes ficam para as madrugadas e os canais sem
telespectadores. Nos horários nobres o que se vê de política é muito prato
feito e nenhum conhecimento dos ingredientes ou da receita. O que me faz um
quase proponente da urgência de se criar um Conselho da Ordem dos Profissionais
de Comunicação, com prova e tudo – afinal, o que é bom para os advogados deve
ser bom para jornalistas, repórteres e marqueteiros.
Vamos chorar mais um pouquinho? >>>
Como diferenciar os candidatos
nessa passarela de números, sorrisos, quantidade de partidos nas prováveis alianças
e adição e subtração de tempo de propaganda eleitoral na TV e no Rádio? Tarefa difícil
para uma pessoa informada e impossível para a quase totalidade dos brasileiros.
Nas veiculações partidárias na TV
e no Rádio, no lugar das propostas de cada candidato para solucionar os
problemas brasileiros, repetem-se palavras e proposições inobjetáveis: fim da miséria, fim da corrupção, ética,
educação, saúde, segurança, trabalho etc. A impressão que fica é a de que há um
consenso nacional e que qualquer partido e qualquer candidato tocaria o Brasil
pra frente do mesmo jeito. Como é apresentado, a diferença, sem exagero, pode
ser percebida, apenas, na arte do uso das linguagens televisiva e radiofônica –
razão para o custo exorbitante desses profissionais que hoje, substituindo o
clero do passado, atuam para colocar a coroa no rei. Mas o tempo, distante como
o anjo, talvez nos dê chance para encontrar alguma distinção nas propostas e,
consequentemente, nos candidatos. Senão, vejamos.
Considerando os seus discursos de
Estado máximo e recursos insuficientes, o que farão Dilma e Lula para promover
o desenvolvimento econômico e social inclusivo sem privilegiar e fortalecer a
indústria nacional, a tecnologia que gera empregos e renda decentes, e sem
privatizar para ampliar investimentos do empresariado?
O que fará Marina com o
agronegócio, o Pré-Sal e os direitos civis (LGTB, aborto, liberdade religiosa
etc) considerando o seu ecologismo, seu fundamentalismo religioso e seu ego
exacerbado que pode implodir o partido que a abrigou? Se os fundadores da Rede
Sustentabilidade não conseguem entender essa filiação de Marina ao PSB, o que
esperar deles quando ela, se eleita presidente, for obrigada a fazer alianças
políticas para administrar o país?
O que fará Aécio Neves ou Serra
com a miséria, a pobreza e a incapacidade do mercado para distribuir as
riquezas geradas pelo trabalho, considerando o seu projeto de consolidar a
administração pública brasileira com Estado mínimo e privatização máxima? Fazer
um Estado mínimo todo mundo entendeu, mas o que fazer com os futuros
desempregados a serem dispensados pelo poder público municipal, estadual e
federal?
O Eduardo Campos com sua nova política do “é
possível fazer muito mais” (muito mais do mesmo?), o que fará que não foi feito
em Pernambuco? Que ele tem críticas ao governo Lula/Dilma a gente tá
percebendo, mas a solução será alcançada pelos inocentes do DEM que integram o
seu governo estadual desde 2006?
Mas há outra unanimidade: todos
querem mergulhar o país (e a gente junto) e nem sabemos quem tem mais fôlego ou
mais equipamentos de mergulho. Estamos num deserto político discutindo quem é o
melhor capitão para navegar em águas turbulentas. Se todo barco tem tripulação,
pelo menos deveríamos saber quem são os marujos, qual a embarcação e o roteiro
dessa travessia do Brasil de antes para o Brasil de hoje que querem as ruas.
O povo brasileiro sabe que não há
seleção que ganhe copa do mundo sem time, ataque, defesa, volante e bons
goleiros. Administrar o Brasil é menos do que isso? Parece que a resposta é
sim. Ao menos é o que se vê em todos os programas partidários onde cada
candidato é apresentado como personalíssimo - rei do eu só, no melhor estilo
Dom Quixote, Zorro, Batman e super-herói. E, nesse caso, não dá pra culpar a mídia,
cuja capacidade tem sido, apenas, funcionar como caixa de ressonância dos
discursos ensaboados por marqueteiros, lidos na frente das câmeras. Há raras exceções
de alguma clarividência aqui, mas, infelizmente, não são fruto de compromissos
com a sociedade brasileira, mas compromissos com candidatos em particular, pois
a mídia nacional tem nos governos a sua maior fonte de renda. Igualdade, democracia,
liberdade de informação, tudo vai pelo ralo. Onde anda o Ministério Público que
não propõe abrir uma investigação dos contratos da mídia com governos?
Portanto, voltando aos nossos
candidatos à presidência da República nesse outubro de 2013, momento em que
fomos rendidos às velhas regras eleitorais (mais do mesmo, também) - entre elas
a que engessa o futuro na camisa de força das filiações com um ano de
antecedência, resta aprofundar nosso conhecimento sobre os projetos dos
candidatos para o Brasil de amanhã. Quem sabe assim poderemos tirar a eleição
presidencial do campo do votar no menos pior, como sempre foi, para um pouco de
certeza sobre o nosso futuro e o futuro das próximas gerações. Para sair desse
emaranhado midiático e vazio, novas e velhas palavras devem ser inseridas no
vocabulário, pois as atuais, usuais e correntes, estão na boca de todos os candidatos,
de tal modo que podemos ser escravizados pelos anjos ou libertados pelos anjos
e não há como correr para o Procon depois do resultado.
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