A liberdade de imprensa tem extraordinárias finalidades para a sociedade: contribui para a garantia do Estado de Direito e dos Direitos Humanos contra os abusos do Estado e da tecnoburocracia; aprimora a Democracia e atuar no controle social do poder público, entre tantos outros maiores e menores. Abrir mãos de tudo isso por uns trocados do governo é uma temeridade. Vai viciá-la e fragilizá-la. A longo prazo, devido à sua redução à superficialidade das notícias do trânsito, do quebra-quebra, das variações climáticas e da violência urbana, o resultado será o aumento da interferência estatal, direta ou indireta, no conteúdo das informações, o que a conduzirá ao estreito corredor do controle e da censura e a sociedade não será sua aliada.>>>
Apesar desse rol de atribuições de inegável valor social, as coisas não tem andado muito bem quando avaliamos os reflexos do trabalho das mídias na formação do pensamento e do estado de espírito do povo brasileiro.
No esforço de manter a audiência a qualquer custo, o jornalismo brasileiro se especializou em falar o óbvio. E o óbvio ele parece não entender: que a mídia falada e escrita, sem dialogar com o pensamento divergente, reproduzindo apenas o senso comum, acaba travestindo-o com a aura do bom senso.
Milhares de imagens da luta entre israelenses e palestinos estão no imaginário dos telespectadores. Os israelenses ocupando novas faixas de terra na Cisjordânia e os palestinos resistindo a paus e pedras contra Israel. Mortes pra cá, prisões pra lá, explosões, bombas, feridos. Nada além disso, durante anos a fio. Nesse caso, por exemplo, o que ficou no imaginário popular - já que dezenas de anos se passaram sem que uma solução aparecesse - é que, apesar da força militar de Israel, os palestinos estão lá firmes e fortes com suas pedras e paus. O povo não tem armas, mas tem pedras e paus.
Mas, não se deixe enganar pensando que não existem bons jornalistas no Brasil ou boas idéias ou bons projetos para as mídias. Existe tudo isso e muito mais, basta dar uma olhada na história do jornalismo brasileiro que muitos exemplos poderão ser encontrados. Claro, os melhores, aqueles que influenciaram positivamente a inteligência brasileira foram independentes. Nem de longe se pareceram com esses veículos que aí estão, todos comprometidos com polpudas verbas governamentais, que os obriga ao alinhamento puro e simples ou aos arroubos de vender o próprio silêncio para não revelar informações que seriam do interesse da sociedade. Não há liberdade de imprensa no Brasil. Há liberdade do empresário da comunicação. E, se essa liberdade está comprada, a sociedade perde um dos mais importantes valores no mundo atual: a informação.
Sem informação de qualidade, sem conhecer e debater as diversas opiniões sobre a realidade brasileira e mundial, resta-nos apenas repetir jingles, decorar propagandas, ver novelas, ver filmes dezenas de vezes e sonhar com a entrega do país aos colonizadores “desenvolvidos”, duvida? Experimente perguntar aos jovens o que eles achariam se os EUA invadissem o Brasil. Vai se surpreender. Afinal, eles repetem o que diz a mídia: que todos os políticos e partidos são corruptos; que todos os governos são corruptos; que somos um país pobre; que nossa infra-instrutora é péssima; que as estradas são péssimas; que a educação é péssima; que a saúde está pela hora da morte; que não há segurança; que somos subdesenvolvidos; que somos um país de grandes belezas naturais, sem terremoto, sem furacão, sem vulcão, “mas você vai ver o povinho que vou colocar ali”, até Deus já fundamenta esse cataclisma. E tome indústria cultural, nacional e estrangeira. Ouve-se as mesmas músicas na laje e na beira das piscinas das mansões. Ponha professores nesse rol, “conscientizando” os alunos com a informação que recebem e nada sobra do país.
Ninguém vê essa tragédia? Como edificar, construir uma nação, se não temos em quem confiar e nem onde fincar o pé para dar o próximo passo? Sobrará alguma alternativa senão a violência nas mãos de justiceiros pelas esquinas? A própria imprensa já sente as conseqüências de sua massificação da desesperança. Nas manifestações seus veículos e seus profissionais são hostilizados, agredidos e mortos, não mais pela polícia, mas pela própria população enfurecida. Revolta da criatura contra o criador.
Descrevendo dessa maneira até parece que minha opinião também se alinha a esse estado de desilusão. Não é bem assim. Confesso que minha esperança está viva, mas alinhada àqueles que não lêem jornal, não assistem televisão e não fazem parte da sociedade de consumo. Em suma, “os deserdados da cultura”, como diria o filósofo Adorno. Ou aqueles que “nada tem a perder senão os seus próprios grilhões”, como diria Marx. Aí sim, mergulharemos num novo tempo, onde a imprensa, nem querendo, terá mais a chance de participar da educação da sociedade para o respeito às liberdades, ao pensamento divergente, aos direitos humanos e ao convívio entre os culturalmente desiguais. O governo do senso comum será sempre autoritário, seja pela esquerda, seja pela direita.
.Apesar desse rol de atribuições de inegável valor social, as coisas não tem andado muito bem quando avaliamos os reflexos do trabalho das mídias na formação do pensamento e do estado de espírito do povo brasileiro.
No esforço de manter a audiência a qualquer custo, o jornalismo brasileiro se especializou em falar o óbvio. E o óbvio ele parece não entender: que a mídia falada e escrita, sem dialogar com o pensamento divergente, reproduzindo apenas o senso comum, acaba travestindo-o com a aura do bom senso.
Milhares de imagens da luta entre israelenses e palestinos estão no imaginário dos telespectadores. Os israelenses ocupando novas faixas de terra na Cisjordânia e os palestinos resistindo a paus e pedras contra Israel. Mortes pra cá, prisões pra lá, explosões, bombas, feridos. Nada além disso, durante anos a fio. Nesse caso, por exemplo, o que ficou no imaginário popular - já que dezenas de anos se passaram sem que uma solução aparecesse - é que, apesar da força militar de Israel, os palestinos estão lá firmes e fortes com suas pedras e paus. O povo não tem armas, mas tem pedras e paus.
Mas, não se deixe enganar pensando que não existem bons jornalistas no Brasil ou boas idéias ou bons projetos para as mídias. Existe tudo isso e muito mais, basta dar uma olhada na história do jornalismo brasileiro que muitos exemplos poderão ser encontrados. Claro, os melhores, aqueles que influenciaram positivamente a inteligência brasileira foram independentes. Nem de longe se pareceram com esses veículos que aí estão, todos comprometidos com polpudas verbas governamentais, que os obriga ao alinhamento puro e simples ou aos arroubos de vender o próprio silêncio para não revelar informações que seriam do interesse da sociedade. Não há liberdade de imprensa no Brasil. Há liberdade do empresário da comunicação. E, se essa liberdade está comprada, a sociedade perde um dos mais importantes valores no mundo atual: a informação.
Sem informação de qualidade, sem conhecer e debater as diversas opiniões sobre a realidade brasileira e mundial, resta-nos apenas repetir jingles, decorar propagandas, ver novelas, ver filmes dezenas de vezes e sonhar com a entrega do país aos colonizadores “desenvolvidos”, duvida? Experimente perguntar aos jovens o que eles achariam se os EUA invadissem o Brasil. Vai se surpreender. Afinal, eles repetem o que diz a mídia: que todos os políticos e partidos são corruptos; que todos os governos são corruptos; que somos um país pobre; que nossa infra-instrutora é péssima; que as estradas são péssimas; que a educação é péssima; que a saúde está pela hora da morte; que não há segurança; que somos subdesenvolvidos; que somos um país de grandes belezas naturais, sem terremoto, sem furacão, sem vulcão, “mas você vai ver o povinho que vou colocar ali”, até Deus já fundamenta esse cataclisma. E tome indústria cultural, nacional e estrangeira. Ouve-se as mesmas músicas na laje e na beira das piscinas das mansões. Ponha professores nesse rol, “conscientizando” os alunos com a informação que recebem e nada sobra do país.
Ninguém vê essa tragédia? Como edificar, construir uma nação, se não temos em quem confiar e nem onde fincar o pé para dar o próximo passo? Sobrará alguma alternativa senão a violência nas mãos de justiceiros pelas esquinas? A própria imprensa já sente as conseqüências de sua massificação da desesperança. Nas manifestações seus veículos e seus profissionais são hostilizados, agredidos e mortos, não mais pela polícia, mas pela própria população enfurecida. Revolta da criatura contra o criador.
Descrevendo dessa maneira até parece que minha opinião também se alinha a esse estado de desilusão. Não é bem assim. Confesso que minha esperança está viva, mas alinhada àqueles que não lêem jornal, não assistem televisão e não fazem parte da sociedade de consumo. Em suma, “os deserdados da cultura”, como diria o filósofo Adorno. Ou aqueles que “nada tem a perder senão os seus próprios grilhões”, como diria Marx. Aí sim, mergulharemos num novo tempo, onde a imprensa, nem querendo, terá mais a chance de participar da educação da sociedade para o respeito às liberdades, ao pensamento divergente, aos direitos humanos e ao convívio entre os culturalmente desiguais. O governo do senso comum será sempre autoritário, seja pela esquerda, seja pela direita.
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