OPINIÃO
Aos trancos e barrancos o Brasil está evoluindo. O caso Pasadena, da compra de uma refinaria nos Estados Unidos por U$1,2 bilhões pela Petrobras é o caso do momento. Esse caso até podia ser útil para o país, se a oposição saísse do conforto do marketing político eleitoral para um mergulho nessa seara de contratos internacionais que são tramados por aqui ou empurrados goela abaixo de dezenas de governos mundo afora, inclusive o brasileiro. Passar a limpo essa tramóia da globalização – leia-se invasão dos países pobres pelos países ricos - seria um passo adiante no “desenvolvimento” do Brasil. Mas o discurso eleitoreiro dos opositores de plantão quer o Brasil “envolvido”, preso, colado e atrelado às vendas casadas internacionais que se multiplicam na obscuridade, sob o manto dos acordos de cooperação. Fingem interessar-se agora pelo caso Pasadena porque consideram exorbitante o preço pago. Mas, em todos os outros negócios internacionais, silenciam quando compramos lebre ao preço justo e nos entregam gato. >>>
Uma leitura responsável para descortinar a leva de contratos fajutos que o país sempre fez e faz, com negociantes do mundo inteiro poderia ser útil para o Brasil. No entanto, isso exigiria um discurso sem alinhamento político ou eleitoral - coisa rara e, geralmente, ausente entre nossos deputados, senadores e a grande mídia. Se dessa leitura responsável tirássemos da gaveta os contratos para execução do Sivan – Sistema de Vigilância da Amazônia (governo FHC), da venda da Vale do Rio Doce (governo FHC) – na qual a justiça brasileira reconheceu ter havido fraude; do caso da Alston e as propinas do metrô de São Paulo nos governo do PSDB e outros diversos contratos que as Forças Armadas brasileiras fazem com americanos (FHC-LULA) para “aquisição de produtos e serviços de defesa” - que significa compra de sucata militar com “assistência técnica”, “treinamento” e “fornecimento de peças”, estaríamos tratando o Brasil com o respeito que os políticos e os governos deveriam lhe render.
Voltando ao caldeirão de Pasadena, o enredo dos negócios internacionais é idêntico a outros. Nesse o negociante belga pulou de alegria quando o dinheiro da refinaria caiu na sua conta. Lucro de mais de um bilhão de dólares!, dizem. Os belgas fizeram um “negócio da china”, coisa de se elogiar no universo capitalista: os mais espertos passam a perna nos menos espertos. Comemora-se até em manchete de jornal, já que não existe tribunal internacional para reconhecer “cláusulas leoninas”, como temos aqui em relação aos contratos em nosso país. Como se pode ver, nesse caso, os tribunais americanos apenas confirmaram o que estava no contrato.
A grande mídia faz crer, por enquanto, que os negociantes da Petrobras foram ingênuos e dançaram feio no caso Pasadena. Mas, esses negociantes não foram os únicos brasileiros a “pisar na bola” para colocar o Brasil na linha do pênalti. Que o diga a Bolsa de Valores de São Paulo, em forte subida hoje diante da queda das intenções de voto na presidente Dilma na última pesquisa da Confederação Nacional das Indústrias. Estão sonhando com a volta dos “grandes negócios”. Afinal, essa saudade que a Bovespa demonstrou do passado é fruto da possibilidade de trazer o PSDB de FHC de volta, via Aécio ou Eduardo Campos com o apoio deste. Essa euforia, caríssimos, jamais seria de graça. O enredo dos neoliberais é "desvalorizar" para vender/comprar barato.
O capital internacional gosta do PSDB, que conheceu nos oito anos de FHC na presidência. Gosta, também, de reinar no caos, mesmo que seja com o Eduardo Campos e a Marina Silva e seus egos maiores que o Brasil. Se tiver guerra civil, conflito armado e ondas de protestos e violência, tanto melhor. O capital internacional ganha dinheiro aí também, seja para “apoiar o governo”, seja para “apoiar quem o quer derrubar”.
Com um país inteiro não se brinca. Seja na possibilidade da Petrobras ter levado um tombo na compra da refinaria de Pasadena; seja na negociata do Sivan – cuja empresa vencedora, a Esca - associada à norte-americana Raytheon, foi extinta por fraudes contra a Previdência; seja nas privatizações do sistema Telebrás ou da Vale do Rio Doce, marcadas pela suspeição.
Durante o governo FHC, cito como exemplo, Ricardo Sérgio de Oliveira, seu ex-caixa de campanha e o senador José Serra - ex-diretor da Área Internacional do Banco do Brasil, foram acusado de pedir propina de R$ 15 milhões para obter apoio dos fundos de pensão ao consórcio do empresário Benjamin Steinbruch, que levou a Vale. Claro, FHC impediu a investigação pelo Congresso Nacional (CPI) e nada foi feito pelo seu Procurador Geral da República de 1995 a 2003, cujo apelido era engavetador Geraldo Brindeiro. Agora o Tribunal de Contas da União, aliás, o presidente Augusto Nardes, declara, sobre a aquisição da refinaria de Pasadena, que trata-se de um “mau negócio”. Onde estava o TCU quando o contrato foi assinado? O que fez em relação ao Sivan? E quanto às privatizações da Telebrás e da Vale do Rio Doce? Silêncio também é resposta.
De caso em caso e de denúncia em denúncia, vemos transformar em realidade a nossa esperança de um Brasil passado a limpo que, dia virá, não ficará de joelhos diante dos vendedores internacionais de milagres e bugigangas. Pasadena vai passar. O que não vai passar, a depender da grande mídia nacional - que não tem memória política nem independência de governos, são os oportunistas de plantão. Estes sempre serão alimento fácil e munição para o sensacionalismo que grassa nas redações. Moralidade não vende jornal nem angaria votos.
Na ausência ou fragilidade de uma grande mídia que defenda os interesses do Brasil, doa a quem doer, a proposta de ampliar os temas das CPIs de modo a envolver outros governos deixa de ser uma saída pela tangente do PT e acaba sendo a única alternativa para trazer à tona o maior número de impressões digitais dos “maus negócios” nacionais e internacionais. Com isso perdem os políticos (governo e oposição) e ganha o Brasil.
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