Os jornais tem publicado curiosas matérias
sobre o Governo do Distrito Federal nos seis meses que se passaram desde sua
posse. Nos tempos do Doyle elas beiravam à nudez explícita. Explico.
Em destaque - portanto no primeiro plano, posava
de primeiro ministro o secretário Hélio Doyle, amigo que tem >>>
o meu respeito e
admiração mesmo deposto do cargo, pois não o depuseram de sua dignidade. Volto.
Ao fundo, comparativamente pequeno, o
governador Rollemberg, visitando paquidermes de Jardim Zoológico ou outra doçura.
As matérias, que as fotos angularam com raríssima coerência, repetiam declarações
do próprio secretário, que não escondia ser “propósito do governo concentrar
nele as responsabilidades, ficando o governador com as amenidades”.
Desde então somos obrigados a recuar para
admitir que, aquilo que aconteceu nos 180 dias do governo Rollemberg não foi
obra do acaso ou da falta de um plano de governo, mas ensaio de um tipo de
governo que teremos nos próximos quatro anos: um modelo inglês de parlamentarismo
monárquico, conhecido por aqui apenas como curiosidade internacional. De um
lado um primeiro-ministro que tudo sabe e decide e, do outro, uma figura
emblemática, assim como um rei da Inglaterra, a desfilar roupas novas e disseminar
simbologias de altíssimo teor moral na vida dos pobres mortais (plantar uma
árvore aqui, visitar um hospital de crianças com câncer ali, dar o primeiro
chute numa bola acolá etc). Situação que nos obriga, no mínimo, a rever os
alvos, pois não é elegante debater mundanidades
com o rei.
Se fôssemos céticos quanto à natureza humana,
diríamos que o eleitor brasiliense colocou no governo o fino extrato do
egocentrismo político. Mas, como políticos que somos, obrigados a “pensar a pólis”
(o conjunto), é melhor afirmar que algum fator, ainda não identificado, tem tornado
o egocentrismo mais acentuado a cada ciclo de quatro anos que se passa. Nesse
ritmo podemos ter como governador, em 2018, o atual, num segundo reinado, ou outro
que se coloque acima dos reis.
Da minha parte, no bom estilo inglês, peço
desculpas pelas citações nominais ao governador Rollemberg nos artigos
anteriores. Como todo eleitor inocente, jurava que quem governava era ele.
Portanto, redireciono as críticas ao
primeiro-ministro Hélio Doyle (perdão amigo, a eloquência tem armadilhas), mas mantenho
os elogios à pessoa do governador, desejando-lhe o que se deseja aos reis: longa
vida recheada de sabedoria e sensibilidade, como a que deve expressar na orientação
socialista aos órgãos do GDF naquelas ações que esbarrem em desabrigados,
desassistidos, desempregados, idosos, deficientes e, particularmente, nas
categorias de trabalhadores que ainda esperam que a pomba da paz da sua
bandeira alce largos voos nos céus de Brasília.
Nessa altura dos acontecimentos, para que a
sociedade compreenda que temos o suporte moral do rei posto e a eficiência do
primeiro-ministro, desejando que tais impulsos - para frente, não fiquem apenas
no rol das revisões morais espasmódicas de boníssimas intenções, permitamo-nos
sugerir ao atual primeiro-ministro que organize, com urgência, uma ação proporcional
contra as invasões na orla do Lago Paranoá e, particularmente, no Pontão do
Lago Sul. Claro, sem grandes preocupações, pois não haverá desabrigados pobres
a serem socorridos, nesse caso.
Se o primeiro-ministro não puder fazer valer,
na orla do Lago Paranoá e no Pontão do Lago Sul, a mesma lei que pune invasores
nos confins do abandono de Ceilândia, São Sebastião e outras lonjuras,
comprovado estará, realmente, que o Rei anda Nu.
Francisco
Morbeck
Professor, Jornalista
e Advogado
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