12.11.2013
Noticiário de hoje dá conta de
que em São Paulo um motoqueiro, que passou no exame, teve a carteira de
condutor de moto negada porque não pagou propina ao funcionário público do
departamento de trânsito. Isso é inconcebível quando falamos de direito,
legalidade e outras coisas próprias da cidadania. Mas o caso se torna ainda
mais grave quando ouvimos, no mesmo dia, o nobre deputado Chico Alencar (PSOL-RJ)
afirmar, na rádio Câmara durante debate sobre direito autoral, que o pagamento
de “jabá” (propina para o radialista colocar a música no ar) é uma corrupção
que já foi “absorvida pela sociedade” o que a torna “um crime menor”. É o
próprio deputado que revela a dimensão dessa prática ilícita. Mas, ao contrário
de denunciá-la, pois a TV e os jornais também a praticam em grande escala -
vendendo matérias e participações em programas de televisão, pactua com o
ilícito e perigosamente transforma a fonte da corrupção em “comportamento
cultural”. Sinceramente, não é fácil ouvir tal aleivosia da boca de um representante
de um partido que se diz na vanguarda da política brasileira. Com essa visão a
única esperança é não desocupar as ruas.>>>
Não se trata, esclareço, de uma defesa intransigente da lei no sentido de que deve ser “igual para todos”, pois sinceramente não vejo como trancafiar na cadeia uma pessoa que furtou uma lata de sardinha num supermercado para sanar a fome. Trata-se de constatar que o nobre deputado parece desconhecer - ou pior, omitir, que a corrupção no Estado não é uma prática misteriosa que brota naqueles que ocupam o poder público. Ao contrário, ela é uma extensão, um contínuo, das pequenas e grandes práticas corruptas que nascem no âmbito dos negócios privados. Essas sim, as grandes responsáveis pelo desmantelamento do Estado, pois como diz Caetano Veloso em Sampa “narciso acha feio o que não é espelho”.
Não se trata, esclareço, de uma defesa intransigente da lei no sentido de que deve ser “igual para todos”, pois sinceramente não vejo como trancafiar na cadeia uma pessoa que furtou uma lata de sardinha num supermercado para sanar a fome. Trata-se de constatar que o nobre deputado parece desconhecer - ou pior, omitir, que a corrupção no Estado não é uma prática misteriosa que brota naqueles que ocupam o poder público. Ao contrário, ela é uma extensão, um contínuo, das pequenas e grandes práticas corruptas que nascem no âmbito dos negócios privados. Essas sim, as grandes responsáveis pelo desmantelamento do Estado, pois como diz Caetano Veloso em Sampa “narciso acha feio o que não é espelho”.
Nesse mesmo diapasão da absorção da corrupção pela sociedade, de acordo com o deputado Chico Alencar haveremos de considerar “crimes menores” – pois também são práticas comuns - a exigência de colaboração para a caixinha do partido nos contratos, renegociações favoráveis de dívidas ou liberação de licenças, permissões ou concessões de toda sorte pelo poder público, assim como os pagamentos (ou trocas de favores) feitos a juízes, desembargadores e ministros para a liberação de uma decisão favorável, um cálculo vantajoso ou a celeridade processual no judiciário, para não me estender num interminável rol de práticas corruptas corriqueiras.
Não tenho dúvida que foi um deslize
brejeiro do deputado Chico Alencar fazer tal afirmação num programa da rádio
Câmara. Nem por
isso perdoável. Minha dúvida, diante de sua extensa biografia como parlamentar, historiador,
professor e escritor, é saber se "o uso do cachimbo é que entorta a boca" ou se ele incorpora a
frase de Hannah Arendt: “O revolucionário mais radical se torna um
conservador no dia seguinte à revolução”.
Biografia de Chico Alencar:
http://www2.camara.gov.br/deputados/pesquisa/layouts_deputados_biografia?pk=74171
http://www2.camara.gov.br/deputados/pesquisa/layouts_deputados_biografia?pk=74171
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