É comum no Brasil a aferição do valor de um
determinado político ser considerado com base no número de votos (ou intenção)
que ele detenha junto ao eleitorado. O vício é uma “reserva de marketing e
mídia” - de poder consequentemente, para quem está na política ou tem a imagem
constantemente exposta. É, sem dúvida, uma aferição que confere credibilidade a
muitos indivíduos que, cedo ou tarde, transformam-se em símbolos de frustração,
já que seu cacife foi produzido na ausência de parâmetros socialmente significativos,
capazes de ir além do modelo de venda de produto de consumo típico de
supermercado. Ontem eu ti omava, hoje não
omo mais. Porque sim. Tipo isso.
Seguindo o caminho desse raciocínio
paupérrimo, não é estranho que, nesse momento, todo movimento social no Brasil tenha
como parâmetro as manifestações de junho de 2013. Tratamento que tem sido dado
pela mídia, que importa a pobreza numérica do comparativo de votos (ou
intenção) do ambiente político partidária para suas redações, adaptando-a
apenas.
Comparar as manifestações de junho de 2013 com
a manifestação de 11 de julho, convocada pelas centrais sindicais e sindicatos
do país, levando em conta apenas o número de participantes, revela a pobreza de
nossa mídia e de seus quadros militantes, para não admitir o mais grave: uma
uníssona tentativa de calar os movimentos sociais organizados. Senão vejamos.
As manifestações de junho comportaram um número
extraordinário de jovens de classe média que não foram para as ruas sob a
ameaça de perda do emprego. Passeavam pela vida, como cidadãos de pleno
direito.
Do mesmo modo, por estarem num movimento “espontâneo”
– no sentido da ausência de organização institucional, não sofreram qualquer
constrangimento legal ou ameaça por parte dos tribunais, como foi o caso
recente da interrupção do tráfego de caminhões, em que a justiça determinou uma
multa de R$6,3 milhões ao Movimento União Brasil
Caminhoneiro (MUBC), penhora dos bens do presidente e ameaça de multa de
R$100 mil reais por hora, caso a obstrução das vias persistisse. O que você
faria sob tamanha ameaça? Fortalecer o movimento ou recuar? No quadro que vivemos,
em que todo movimento tem como causa principal um Brasil do futuro já, não é
possível a nenhum líder evitar as manifestações, pois a rua transformou-se no
único espaço de diálogo respeitado pelos poderes constituídos, seja ele
executivo, legislativo ou judiciário.
Enquanto
os jovens manifestantes das águas de junho voltaram para suas casas tranquilos
após cada uma das manifestações, os trabalhadores que se aventuraram nessa
massiva luta de trabalhadores pelo Brasil afora em 11 de julho, tinham sob suas
cabeças a ameaça do desemprego no dia seguinte.
Os
jovens manifestantes das águas de junho lutaram por bandeiras dispersas
(redução da passagem, passe livre, saúde, educação) que estão na boca de
qualquer cidadão pela constante exposição desses temas na mídia. Bandeiras que
colocam em cheque a qualidades dos serviços públicos oferecidos aos cidadãos. Aqui
os jovens vão às ruas para dar sua contribuição à sociedade na oferta de
serviços essenciais.
Já
os trabalhadores do 11 de julho tinham bandeiras mais abrangentes (40 horas
semanais, fim do fator previdenciário, reforma agrária), temas que proibidos de
frequentar a mídia. Bandeiras que colocam em cheque o modelo capitalista de
acumulação de riquezas nas mãos de poucos. Aqui os trabalhadores vão às ruas
para dar um novo rumo ao modelo econômico e social do país que lhes garanta, ao
menos, não amargarem na fila do desemprego ou das bolsas governamentais num
futuro próximo.
Como
se pode ver, comparar as manifestações de 11 de julho com as águas de junho
apenas pelo número de pessoas beira a uma simplificação sem paralelo. Repetir a
banalidade dessa comparação – a ponto de desclassificar e retirar da pauta o 11
de julho, confirma a comprometida imagem internacional da imprensa brasileira
como superficial e incapaz de analisar os fatos quando há necessidade de ir
além das aparências. A crise de qualidade no Brasil não é, apenas da educação,
da justiça e dos serviços públicos, a imprensa também faz parte desse rol.
Portanto,
o 11 de julho, pelos riscos e a qualidade dos temas tratados, tem importância totalmente
distinta das águas de junho. Sem exageros, podemos afirmar que as águas de
junho refletem a consolidação do modelo de sociedade cidadã que à duras penas
foi conquistado por décadas de lutas das organizações de trabalhadores na
construção da democracia brasileira. Dois momentos que se somam na mesma causa:
o Brasil do futuro já.
Chico
Morbeck
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