domingo, 4 de agosto de 2013

QUEIJO MINEIRO, RAPADURA E FARINHA NA CLANDESTINIDADE

Alguém em sã consciência precisa esclarecer se somos verdadeiramente um país ou uma confederação de tecnoburocratas.
Alguém já imaginou a França sem os famosos vinhos artesanais? Ou o Japão sem o sushi e o sashimi? Apenas como exemplo, chegar nesses dois países e não encontrar tais iguarias é quase uma constatação de que você não está no país certo. Quem ousa chamar de fedido um queijo gorgonzola? Seria uma ofensa imperdoável à nação italiana. Cada um desses países considera suas iguarias um traço de sua identidade cultural, sem os quais simplesmente não existiriam como nação.
 
Banido no seu próprio país, o queijo minas é iguaria jogada na clandestinidade
 
No Brasil situação muito diversa ocorre, quando o assunto é queijo de minas, queijo coalho, rapadura nordestina ou charque riograndense. São iguarias consumidas e reconhecidas como identidades culturais de seus estados, como muitas outras iguarias populares em todos os estados do Brasil, mas são atiradas na ilegalidade pelos ditos órgãos fiscalizadores. Desde 2008, registre-se, o pão de queijo foi reconhecido como patrimônio imaterial pelo ministério da cultura. E dai?
 
Importante fonte de combate à anemia, a rapadura não tem trânsito livre no país

Acontece que o queijo curtido, com o qual se faz o pão de queijo tradicional de minas, é comercializado em todo o país como contrabando, pois a Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde não foi informada da importância dessa iguaria para a nossa identidade como nação. Certamente os técnicos sanitaristas não cometem o crime de incentivar esses contrabandos consumindo pão de queijo ou mocotó com farinha. Similarmente, o mesmo ocorre com a rapadura e todos os produtos artesanais brasileiros que são obrigados a atravessar fronteiras nas surdinas para driblar a insanidade dos órgãos públicos que criam regras e mais regras para colocar esses produtos na clandestinidade.
O argumento da Vigilância Sanitária é recheado de normas destinadas à “proteger” os brasileiros dos perigos do consumo desses alimentos artesanais, que nunca foram responsáveis por nenhum surto, doença ou contaminação fulminante em suas regiões de origem, mas, milagrosamente, transformam-se em produtos perigosos para o consumo quando cruzam as fronteiras estaduais.

Para desgosto da nação brasileira, nenhum partido, parlamentar, juiz ou membro do executivo fez coro, manifesto, projeto de lei, sentença ou coisa que o valha para acabar com esse abuso dos órgãos fiscalizadores que parecem não funcionar em defesa da cultura nacional. Tudo indica que copiam normas e regras ditadas por interesses industriais que reservam para si o mercado de consumo, procurando forçar o povo brasileiro a trocar o charque pelo hambúrguer, o pão de queijo pelo croissant francês e a rapadura pelo chocolate suíço.  Um desastre sem precedentes contra a diversidade cultural nacional que destrói a economia familiar de subsistência e a sobrevivência das pequenas propriedades para favorecer a disseminação de shoppings e o fast foods como modelos de comércio e de produtos de consumo.
Curiosamente, esses técnicos ciosos que colocam na clandestinidade milhares de produtos da cultura nacional, viajam para o exterior e frequentam feiras em Istambul, camelôs em Marrocos ou Lisboa e comidinhas de beira de ruas em Londres ou Pequim. Enquanto o queijo mineiro, o charque gaúcho, a rapadura nordestina, a farinha de mandioca e tantos produtos artesanais da culinária nacional forem impedidos de cruzar esse país livremente, o povo brasileiro não pode sair das ruas. Libertas quae será tamen ou revolução já!

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