Foi François Hollande, presidente socialista da
França ou Barack Obama, presidente democrata dos Estados Unidos que propôs
acabar com a guerra civil na Síria lançando um ataque aéreo para matar milhões
de sírios? Importa pra você se as vítimas forem civis ou militares?>>>
Se a guerra pudesse envolver apenas os
militares eles bem que podiam resolver isso numa disputa tecnológica como a
Luta de Robôs ou os campeonatos culinários. I´m
sorry. Para não perder o glamour militarista, melhor seria uma maratona de
peripécias aéreas e marítimas na parte mais vazia do Oceano Pacífico Sul, a
2.688 km de qualquer pedaço de terra. Anote as coordenadas: 48°52.6′ sul e
123°23.6′ oeste. Se o caro leitor for amigo de um dos envolvidos diretos nessa
guerra, pode fazer a sugestão. As coisas acontecem assim mesmo na história. Mais
vale um lobista de plantão do que uma centena de bons argumentos humanitários.
O mundo não é feito de seres humanos, nem funciona para eles. É feito de
empresas que funcionam para obter lucro. Simples.
Nesse ponto remoto, indicado acima e chamado de
Ponto Nemo – que quer dizer ponto nenhum, as forças armadas dos países ricos
poderiam gastar bilhões de dólares comprando armamento da pobre indústria
bélica e, ainda, fazer experiências muito importantes com alimentos enlatados,
pílulas que combatem a fome, suprimentos alimentares para futuros atletas e
água em pó. Isso tudo para não sair daquele foco científico de que as guerras impulsionam
o desenvolvimento tecnológico...
A proposta não é irônica. É séria. Uma
alternativa mais apropriada para o discurso inflamado de defensores dos
direitos humanos que vem desses mesmos países. Apenas uma tentativa de evitar a
repetição das velhas táticas da diplomacia dos países capitalistas ricos, que
sempre encontram uma explicação midiática para atender as demandas das
indústrias bélicas e matar inocentes mundo afora. Foi assim nos últimos 50 anos
e a indústria bélica não perdeu nenhuma guerra. Nenhuma. Confira:
- Vietnã (1964-1975) – para frear o perigo
comunista (custou US$ 200 bilhões, matou um milhão de vietnamitas e 47 mil
americanos e deixou 313 mil americanos feridos);
- Golfo (1990-1991) – para frear Saddan Hussein
que era aliado dos Estados Unidos contra o Irã, mas invadira o Kuwait na luta
para manter alto o preço do petróleo interrompendo o fornecimento dos dois
países para os EUA (custou US$ 61 bilhões, matou 100 mil soldados e 7 mil civis
iraquianos; 30 mil kuwaitianos e 510 soldados da coalisão (EUA, Inglaterra,
França, Egito, Síria e outros países que formaram a coalizão anti-Hussein),
deixando 467 soldados americanos feridos;
- Iraque (2003-2004) – para acabar com o
arsenal de armas químicas... – já ouviu isso? (custou US$ 770 bilhões, matou 20
mil soldados e policiais, 19 mil insurgentes e 126 mil civis iraquianos, além
de 4.484 soldados americanos mortos e 32 mil soldados americanos feridos);
- Afeganistão (2001-201...) – para combater o
terrorismo (até agora custou US$ 345 bilhões, 38 mil foram mortos ou
capturados, 8.756 soldados afegãs foram mortos e 2.465 soldados da OTAN foram
mortos, sendo 1.600 soldados americanos, deixando 16.000 feridos).
Longe de mim defender os abusos de Bashar al-Assad
e seus súditos que mantêm o povo sírio sob jugo despótico e tirano, mas não nos
iludamos. A guerra é uma indústria que corre atrás de suas vendas e lucros como
o camelô da esquina. Por trás da guerra está o controle do mercado, do petróleo
etc.
Infelizmente, para o camelô, tem a fiscalização
do Estado, que proíbe o seu negócio sob a alegação de que ele não gera impostos,
mesmo que ele seja detentor do direito constitucional do “livre exercício de
qualquer profissão ou trabalho”... Mas, felizmente para a indústria bélica
americana, soviética, francesa, inglesa e alemã, não há fiscalização, nem
Estado que os impeça de vender e obter seus lucros, sob a alegação de que cada
país tem liberdade para fazer o que quer. Consenso do Conselho de Segurança da
ONU? Balela que nunca foi respeitada e nunca gerou um só arranhão nos países
que descumpriram esse acordo internacional.
Ingênuos
somos nós que acreditamos nas justificativas desses governos para fazer seus
negócios de guerra. A nós, cidadãos civis – que mais morrem nas guerras -
melhor representados por aqueles três macacos, que não sabem falar, nem ouvir,
nem ver - sobra sempre a responsabilidade de pagar as contas por meio de inflação,
juros e impostos. Estejamos aqui ou na linha de tiro. A única coisa que podemos
fazer contra esses bárbaros é jogar no seu jogo: não consumir nenhum produto ou
serviço que tenha origem em seus territórios, inclusive notícias. Isso, se
estivermos dispostos a ficar nus, cobertos, apenas, pela dignidade de nossa origem
indígena.